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Este dias, falava sobre “resolução de problemas”, o passo a passo para fazer uma boa resolução. Foi então que surgiu uma pergunta: “Quando já tentamos de tudo e o problema não se resolve, o que se faz?”. As palavras que saíram da minha boca quase que automaticamente foram mais ou menos assim “quando um problema não tem como ser resolvido, precisamos aceitar”.

Ao longo daquela semana, me vi pensando na minha resposta, e a outra pergunta que surgiu em minha mente foi: “Quando é tempo de parar de tentar resolver um problema e começar a aceitá-lo?” Ou seja, quantas vezes tenho que tentar resolver um problema para então “desistir” de solucioná-lo e passar a compreender que isto não tem como ser resolvido, ou que agora não é o momento de tentar resolvê-lo?

Até quando devo persistir em busca de um objetivo, que não sei se realmente tem como ser atingido?

Para alcançar o meu objetivo, há anos venho dedicando tempo, dinheiro, energia e muita disposição. E, várias vezes durante estes anos, quando me deparo com a situação de que mais uma vez não consegui alcançá-lo, fico com a sensação de que um balde de água fria caiu sobre a minha cabeça. Fico desinvestida de energia, frustrada e desiludida. Passado um tempo, sereno as emoções, reconecto com meu centro e reinvisto de motivação para continuar em busca do que desejo.

Vejo este ciclo acontecendo já há algum tempo. E agora noto que tem um outro elemento, uma voz curiosa que me pergunta “até quando?”

Por ora, escuto essa voz que me questiona como uma voz meio assustadora, que parece querer uma resposta logo, imediata! Em outros momentos, escuto essa voz com tom mais amoroso, e quando a ouço, penso que a vida pode continuar a ser muito boa, mesmo que eu não consiga conquistar o meu desejo.

Para resolver um problema, temos que ter claro, qual é o problema a ser resolvido. Existe um obstáculo para alcançar o que desejo? Posso descrevê-lo “quem, o quê, quando e onde”?

Quando o problema pode ser descrito com informações que me chegam pelos cinco sentidos, isto é, quando ele é da “pele para fora”, tentar resolvê-lo pode ser algo efetivo. A estratégia para resolver um problema consiste basicamente em definir qual é o problema a ser resolvido; verificar se temos acesso aos fatos sobre a situação (às vezes temos muitas interpretrações e inferências, mas poucos fatos), criar uma lista de soluções possíveis de serem realizadas, escolher 2 resoluções mais viáveis e avaliar os prós e contras de cada uma, colocar em prática e verificar a eficácia. Na verificação, se o problema foi resolvido, ótimo! Se não foi resolvido, verifica-se onde falhou para então tentar mais uma vez em outro momento ou experimentar outra opção de resolução.

E quando você tenta e tenta, e retenta várias e várias vezes solucionar o mesmo problema? Repetindo a mesma estratégia e também buscando outras. O que faz você persistir nisso?

Provavelmente é algo muito importante que faz você persistir. É possível que nesse tema em particular,  mesmo que você não consiga atingir o que deseja, você siga com a expectativa de que vai conseguir, ou que ao menos está na direção daquilo que é importante para você.

Por exemplo, se o objetivo que você quer alcançar é proibir o uso de animais para teste de cosméticos e medicação. Talvez você não consiga fazer com que o mundo todo pare de fazer isto. Mas pode lutar por esta causa várias vezes, de diferentes formas em diferentes situações. E, sempre que faz algo na direção disso, você pode sentir que está atingindo metas tangíveis que o aproximam de algo que é muito importante para você: o bem estar e a saúde dos animais, ainda que nenhuma dessas metas extinga definitivamente o uso de animais nos testes.

Agora, se aquilo que você quer alcançar está lhe causando muito sofrimento, a ponto de você repensar se realmente é o que você quer? Será que o esforço está sendo recompensado? Será que você está conseguindo identificar metas alcançáveis que o aproximam desse algo importante para você? Às vezes nosso sofrimento é um reflexo de uma atitude de revolta contra a realidade que se impõe como algo que não pode ser modificado. São momentos em que parece que nosso sofrimento deriva de um problema lá fora, mas quando olhamos mais perto, o sofrimento vem de estarmos tão apegados ao que “deveria ser”, que perdemos de vista o que de fato queremos e podemos fazer. Nessas horas, o problema maior não está lá fora, mas na revolta e nas lutas infindáveis que travamos dentro da nossa pele.

Essas lutas aparecem nos imensos esforços que fazemos para resolver, para atacar o problema de um lado e de outro, e às vezes são nobres batalhas nas quais entramos em nome daquilo que nos é mais importante, no fundo do coração. Sabemos que estamos nessas nobres batalhas quando, apesar do desgaste, vivenciamos um senso de coerência, de estar no caminho, indo na direção que queremos andar a vida. Mas também há lutas que são travadas por outros motivos, nas quais entramos meio automaticamente e das quais não saímos porque já estamos há tanto tempo nelas que não queremos abandonar justo agora, tão perto; justo agora, que já fizemos tanto. Nessas horas, há uma luta dentro de nós entre permanecer e abandonar o campo de batalha, entre resolver o problema e deixar ele estar.

Quando o problema é “da pele para dentro” temos que desenvolver outras estratégias. ACEITAR que problema não pode ser resolvido é uma delas.

Por exemplo, se um projeto que você tenta implantar na sua comunidade sobre o cuidado com os animais está repercutindo de uma maneira que você começa a receber ameaças à sua integridade física e à da sua família. Você recua, e ao tentar novamente tocar o projeto, sente-se frustrado pelas dificuldades que enfrenta. Ondas de estresse, tristeza, preocupação e ansiedade o invadem. E a cada novo fracasso do projeto, estas emoções reaparecem. E você vai levando a vida, tentando alcançar seu objetivo apesar das dificuldades. Em um determinado momento você nota que está levando a sua vida, trabalhando, tirando férias, saindo com os amigos, mas no pano de fundo a tensão, a preocupação e a tristeza estão ali, disputando espaço com a alegria. Então aquela pergunta aparece: “QUANDO É TEMPO DE PARAR DE TENTAR RESOLVER UM PROBLEMA E COMEÇAR A ACEITAR O PROBLEMA?”

Outra pergunta aparece: qual o custo de permanecer na tentativa de alcançar o objetivo (ao menos neste momento)?

Tomar perspectiva e se conectar com o senso de coerência pode ser útil. Neste momento estou abrindo espaço para aceitar que não tenho energia suficiente para continuar a tentar meu projeto. Não agora. Minha mente sábia, essa sabedoria interior que está no fundo de cada um de nós, me fala que persistir é colocar minha saúde emocional em risco. Preciso tomar um tempo, respirar e seguir apreciando as pequenas coisas da vida que me trazem satisfação e alegria e deixar meu ser se inundar da sensação de felicidade! Minha mente sábia me diz que há mais para a vida do que ganhar essa batalha, do que resolver esse problema. Quando penso nesta possibilidade sinto leveza e liberdade! Sinal de que é um bom caminho para percorrer. É um caminho de volta àquele senso de coerência, de estar em paz comigo e com o mundo, mesmo que nem tudo esteja no lugar em que eu gostaria que estivesse.

Mas então quer dizer que vou desistir “de tudo?” Não sei… acredito que não… mas o que posso dizer é que agora preciso desistir para poder voltar com energia para tentar novamente. Recobrar o fôlego, caminhar em paz até um ponto mais alto, de onde possa ver mais longe. Pode ser que de lá eu decida descer e refazer tudo outra vez, já revigorada. Ou pode ser que no caminho de não ter o que desejo encontre outras coisas importantes para investir… vai saber né?

O que me parece que a sabedoria em mim diz é para tomar com mais leveza o pensamento “eu preciso disto”, ou “você não pode desistir”. Isso permite que eu me veja de um modo mais flexível, e que meus conceitos sobre mim mesmo não definam tanto quem eu sou. Posso, assim, fazer espaço para que o “eu não tenho isto, então não sou completa”, conviva com o “posso viver plenamente sem ter tudo o que quero”, ou “ser completa é mais que  ter isto ou aquilo” ou mesmo “não sei bem o que é preciso para ser completa, e sigo buscando”. Com certeza, abrir esse espaço deixa este caminho mais leve. Tecnicamente, diríamos que escutar essa versão sábia de mim mesma tem como consequência uma maior flexibilidade psicológica, que se reflete nessa sensação de leveza.

A pergunta inicial do texto tem resposta? Acredito que tem mais perguntas do que respostas. Conexão com seu eu interior é a melhor forma de encontrar uma resposta.

*Agradecimento especial ao meu amigo e colega Lucas Souza, que gentilmente me ajudou na fase final deste texto.

Texto publicado originalmente em: http://terapiascontextuais.com.br/quando-e-tempo-de-parar-de-tentar-resolver-um-problema-e-comecar-a-aceitar-o-problema/